Prolegômenos Filosóficos de um Tratado da
Ufologia Cosmológica
Os enigmas do Universo sempre
instigaram o homem desvendar as respostas para questionamentos
cosmológicos, seja através dos mitos, das religiões ou da
ciência.
Mitos surgem de situações de
perplexidade. Perplexidade é o que sentimos quando estamos diante de
alguma coisa que não conhecemos, quando nos deparamos com o que não
podemos entender nem controlar. O mito é uma intuição que pretende
compreender a realidade, de forma espontânea e, geralmente, sem
explicações racionais. Dessa forma o mito tem a função de tranqüilizar o
homem em um ambiente de incertezas, se utilizando de eventos
sobrenaturais.
No âmbito das religiões a função do mito ainda é
propagada. Para o filósofo alemão Ernest Cassirer (1874 – 1945), “no
desenvolvimento da cultura humana, não podemos fixar um ponto onde termina
o mito e a religião começa. Em todo curso de sua história, a religião
permanece indissoluvelmente ligada a elementos míticos e repassada deles”.
As religiões possuem objetivos obscuros de tentar iludir indivíduos, em
seu caráter dogmático acredita no Criacionismo divino como teoria para
formação do Universo.
“A ciência compartilha com a religião a vocação
para responder perguntas profundas sobre as origens, da natureza, da vida
e do cosmos. Mas as semelhanças acabam aí. As convicções científicas são
sustentadas em provas, e geram conseqüências concretas. Já os mitos e a fé
não precisam de provas e nem de resultados”. Esse esplendoroso pensamento
do cientista inglês Richard Dawkins delimita de forma convincente a ação
de cada valor na busca da verdade. A atividade cientifica e o pensamento
filosófico também nascem do espanto, essa idéia foi originalmente proposta
pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C).
A ciência aliada
ao pensamento filosófico foi suficiente para a ruptura entre o pensamento
mítico e o racional. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se
questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. A
palavra filosofia deriva do grego philosophia. Sophia
significa sabedoria, e philo significa amor filial; assim, um
filósofo é um amigo ou amante da filosofia. Esse termo foi usado,
genuinamente, pelo filósofo grego Pitágoras (571 a.C – 497 a.C). Mas,
alguns, ainda, acreditam que a Filosofia é algo distante de nosso
cotidiano, será que a Filosofia está ao nosso alcance? Há uma grande
diferença entre ser um filósofo e estudar Filosofia. Qualquer pessoa que
tente pela sua própria maneira de ver a realidade, entender racionalmente
a vida, o sentido da existência, a sociedade, as relações humanas, o
Universo, enfim, todos os eventos que o cercam, é um filósofo em
potencial, ainda que não possua qualquer instrução significativa. Por
outro lado, é possível estudar a História da Filosofia, o pensamento dos
filósofos, os eventos que marcaram a produção do pensamento humano, sem
nunca desenvolver uma postura de questionamento filosófico. Lembre-se, o
verdadeiro filósofo é um observador atento da realidade, um pensador
dedicado, e que tente pelo seu próprio esforço desvendar o Universo que o
cerca.
Teorias que têm como objetivo explanar o surgimento do Universo
foram propostas por renomados cientistas astrônomos. Atualmente, a mais
aceita é a do Big Bang (grande explosão). Ela foi desenvolvida na primeira
metade do século XX. Essa teoria supõe que toda matéria e energia
existentes estavam concentradas numa esfera muito pequena, extremamente
densa e quente, quando houve a explosão há, aproximadamente, 14 bilhões de
anos. Esse modelo possui algumas evidências, como o afastamento das
galáxias, a presença da radiação cósmica de fundo e a predominância de
hidrogênio (H) e hélio (He) no Universo; no entanto, a teoria não é capaz
de explicar a assimetria matéria-antimatéria.
Decorrente de algumas
falhas na Teoria do Big Bang, foram propostas 3 novas teorias
aperfeiçoadas. Uma delas é a Teoria da Expansão Permanente
(fig.1), ela defende que o espaço aumenta permanentemente
e o Universo expandir-se-á para sempre; a Teoria do Universo Pulsátil ou
Oscilante (fig.2) defende que o Universo expande-se e
contrai-se originando sempre um novo Big Bang; e a Teoria do Estado
Estacionário (fig.3) rejeita o Big Bang e acredita que
com o transcorrer do tempo cria-se constantemente nova matéria entre as
galáxias.
Fig.1- Teoria da Expansão
Fig.2- Teoria do Universo Pulsátil
ou
Permanente.
Oscilante.
Fig.3 – Teoria do Estado Estacionário.
As galáxias, assim como as estrelas, fazem
parte do estudo da Cosmologia. As galáxias são aglomerados de estrelas e
matéria interestelar. O Universo é um conjunto de, aproximadamente, 15
bilhões de galáxias, divididas em 3 tipos diferentes: espirais, elípticas
e irregulares. Uma galáxia (fig.4) é constituída, em
média, de 100 bilhões de estrelas, gás e poeira. Nossa galáxia moradia, a
Via Láctea, tem diâmetro de, aproximadamente, 100 mil anos-luz, forma
espiral; e nosso Sistema Solar (fig.5) está situado em um
“braço” a 30 mil anos-luz do centro da Via Láctea.
Fig.4- Galáxia Nebulosa de Andrômeda visualizada por
infravermelho.
Fig.5 – Localização do Sistema Solar na Via Láctea.
Constituintes essenciais do Universo,
as estrelas, são enormes corpos gasosos no quarto estado da matéria, o
plasma. Sol e outras estrelas são constituídas de plasma, e mais de 90% da
matéria do Universo é formada de plasma. A energia que chega até nós, na
forma de luz, é um dos resultados das reações de fusão entre as partículas
atômicas presentes nas estrelas. A fusão nuclear é a união de núcleos
atômicos produzindo um núcleo maior, ocasionando grande liberação de
energia. O processo de fusão nuclear tende a empurrar o hidrogênio (H),
dentro da estrela, para fora dela; e no mesmo momento, a força
gravitacional tende a empurrar o hidrogênio (H) para dentro da estrela.
Essas duas forças se equilibram (fig.6) em grande parte
da vida da estrela. Mas, decorrido bilhões de anos, o hidrogênio (H)
começa a findar sua concentração e a gravidade implode a estrela em uma
Supernova (fig.7). Nosso Sol ainda viverá por mais,
aproximadamente, 5 bilhões de anos, até que irá se implodir e extinguirá a
capacidade de vida no nosso Sistema Solar, ou seja, a vida na Terra tem
prazo definido. Nas estrelas com massa até 8 vezes maior que a do nosso
Sol, essa implosão para e forma-se o que denominamos de Anã Branca.
Estrelas com massa maior que 25 vezes a do nosso Sol, devido a grande
força gravitacional, a implosão não para até que toda matéria esteja
concentrada em um único ponto, formando um Buraco
Negro.
Fig.6- Forças
atuando
Fig.7- Supernova.
em uma Estrela.
Acredita-se que o tempo decorra mais devagar nas
proximidades do Buraco Negro (fig.8). Será que aí está a
solução das viagens interestelares utilizadas por entidades
alienígenas?
A idéia de viagem no espaço vêm da Teoria dos Buracos de
Minhoca (fig.9) ou Ponte de Einstein-Rosen, descobertos
por Flamm, em 1916. Eles seriam uma junção de um Buraco Branco com um
Buraco Negro. Um Buraco Branco é a versão tempo invertida de um Buraco
Negro, é uma região do espaço-tempo em que nada pode entrar, mas tudo pode
sair. No Buraco Negro tudo pode entrar, mas nada pode sair. Dessa forma
pensa-se que os Buracos de Minhoca formam um Universo Bebê, permitindo
viagens interestelares entre dois Universos diferentes. Sem dúvida, essas
idéias são inebriantes,e aí pode estar a resposta de como se locomover
nesse imenso Universo.
Fig.8- Buraco
Negro.
Fig.9-Viagem em um Buraco de Minhoca.
Após avaliar
essas idéias cosmológicas, nos confrontamos com a incerteza de nossa
origem e de nosso caminho no Universo. O brilhante, físico e matemático
britânico, Isaac Newton (1643-1727) ao conceber esse pensamento demonstrou
sua perspicácia: “o que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”.
Teria a vida sentido sem perguntas e respostas? Tenho a convicção que não,
contentar-me com avaliações superficiais e precipitadas é algo que tenho
aversão, e assim como o filósofo parisiense Jean-Paul Sartre (1905-1980),
eu acredito que “cada homem é responsável por toda a humanidade”. Diversos
indivíduos criam subterfúgios para fugir da responsabilidade do
pensamento, muitas vezes porque sabem que nunca serão reconhecidos por
suas virtudes e benevolências. No entanto, sugiro, que não nos devemos
importar com a avaliação dos outros, pois “a grandeza não consiste em
receber honras, mas merecê-las”.
Observamos também o quanto à vida é
efêmera, quando avaliado na esfera dos fatos do Universo. O que seria só
mais 1 habitante e 1 planeta, diante de trilhões de galáxias? É a
possibilidade de cada um fazer a diferença a favor do bem, de acreditar
que mesmo com uma curta passagem pode contribuir de maneira benéfica para
o avanço da humanidade, não digo somente naquela visão de projetos
científicos, mas sim com mínimas ações para o bem no universo que cada um
cerca. O homem é o único animal que sabe que vai morrer. E, é por isso que
teve a necessidade de criar concepções que tentasse explicar o mundo. Na
verdade, quanto mais próximo da morte se está, mas vivos nos
sentimos.
Será que existe um gerenciador desse Universo, um Deus? Para
o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), “Deus está morto”, mas
quem matou não foi ele. Em seu pensamento ele tenta exibir a idéia de que
em um processo paulatino Deus perdeu sua importância, não com a única
motivação de pregoar o ateísmo, mas sim o de matar o conformismo, a
imposição dos dogmas delimitados por regras anacrônicas. Sartre, um ateu
convicto, para ele “a ausência de Deus era visível em todos lugares”. O
existencialismo de Sartre pode conduzir alguns ao desespero, pois nele o
ser humano encontra-se sozinho, independente, abandonado. Acredito na
existência de um Deus, não sou ateu, mas sou fortemente seduzido pelos
pensamentos de Sartre. Eu acredito em uma entidade divina suprema, chamada
de Deus, que propiciou, de alguma forma, o surgimento da vida, seja ela
terrestre ou extraterrestre; no entanto, essa entidade, propicia o livre
arbítrio para cada indivíduo seguir sua vida sem intervenções. Dessa
maneira cada indivíduo está realmente sozinho em sua vida, fato esse que
atordoa muitos indivíduos, levando-os a procurar a ilusão das religiões
nas igrejas. Nessa lacuna espiritual, de avaliar que se está só, é que
entra a Filosofia, não com o papel de um credo, mas sim da busca pessoal
de suas verdades, sem necessidade de ser manca e se escorar em
ilusões.
Alguns seguem uma prática religiosa, decorrente de não
conseguirem suportar a realidade e suas responsabilidades, e transferem-na
para Deus. Satisfaço-me em saber que sou responsável por mim, e não delego
minha missão a trato do sobrenatural e do ilusório. As pessoas religiosas
se acostumaram a receber uma doutrina incansável que as torna mentalmente
aptas a acreditar que Deus se interessa por todos os detalhes ínfimos de
sua vida e está sempre pronto a interferir quando situações mais graves a
perturbam. Deus não interfere, nunca! Se interferisse, de acordo com os
próprios códigos morais que estão na base de todas as religiões, crianças
e jovens não morreriam nos países mais pobres, terroristas morreriam antes
de ataques, desastres naturais não aconteceriam. Eu acredito, e tenho a
convicção de que nunca devemos reclamar de Deus nas tragédias, em ocasião
alguma, porque ele nada tem a ver com isso; assim como nunca devemos
agradecer nada, porque também ele nada tem a ver com isso. É
impressionante como as pessoas incomodam Deus com os mais sórdidos e
triviais pedidos. Não que Deus seja desinteressado ou indolente, mas sim
porque seria incoerente da parte dele fazer discriminação contra ou a
favor de suas criaturas. É patético e lamentável observar pessoas que se
acham tão importantes na Terra, que acreditam que Deus irá interferir até
para a aquisição de um vestido ou de um celular, e não pensam por quais
motivos esse mesmo Deus não interferiria na vida de milhões de crianças em
condições deploráveis e indignas de vida.
A morte de Deus, assim como
proferiu Nietzsche não foi instantânea. O século XX foi o século da morte
de Deus. Não só a ciência desprendeu-se definitivamente de qualquer apelo
sobrenatural, como a maioria das constituições políticas dos novos regimes
que surgiram afirmaram sua condição agnóstica, como o Estado soviético que
se pronunciou como ateu.
A morte de Deus se deu ao longo do século XIX,
de Laplace a Nietzsche. O matemático Laplace (1749-1825), em seu trabalho,
A Mecânica Celeste, afirmou que não necessitava da hipótese da existência
de um Deus para edificar sua teoria do sistema solar. Strauss, com a
publicação da obra A Essência do Cristianismo, assegurou ser Deus uma
projeção dos desejos da perfeição do homem. Essa alienação do homem que
criara a crença em um Deus foi apoiada pelos pensamentos do filósofo Karl
Marx (1818-1883), em sua obra O Capital, na visão manipuladora da
burguesia oprimindo o proletariado. Nesta luta contra Deus, o naturalista
Charles Darwin (1809-1882), em sua obra A Origem das Espécies, e em A
Descendência do Homem, afetou consideravelmente as concepções religiosas,
ao rejeitar o princípio de fixidez das espécies e ao implementar o
conceito evolucionista.
O grande baque contra Deus veio das ciências
naturais, quando o químico Pasteur, em 1863, na França, e o médico Koch,
em 1882, na Alemanha, descobriram a existência de microorganismos
patogênicos. Descobriram que diversas doenças eram provocadas por cepas de
bactérias, não do desejo de opressão de Deus contra os humanos, em uma
forma de repreensão.
A morte íntima de Deus, na consciência, veio com o
médico filósofo psicanalista Sigmund Freud. Em 1900, publicou a obra A
Interpretação dos Sonhos, mostrando que terrores e fobias humanas nada tem
haver com o sobrenatural ou com os mistérios da alma. Para Freud, em Totem
e Tabu, Deus é nada mais que a poderosa projeção da imagem paterna
incrustada desde cedo na mente humana.
Com todos esses acontecimentos,
Deus já estava prestes a ser enterrado, só faltava o anúncio de Nietzsche
em sua obra Assim falou Zaratustra. Ele nada mais fez do que escancarar
para o mundo literário o que já vinha sendo feito há muito tempo no campo
das ciências naturais e humanas. Que coisa, Deus havia morrido. Os homens
o mataram com seu conhecimento. Agora, para Nietzsche, cada homem deveria
suportar o peso desse crime, alçando-se a si mesmo como um novo homem,
como a superação do homem, como um super-homem (ubermensch),
(fig.10),não no sentido dos heróis em quadrinho, mas sim
um novo ser que, trazendo as novas convicções, assumirá na totalidade a
responsabilidade de viver num mundo ausente de Deus; caracteriza-se por
sua determinação absoluta, pela confiança em sua intuição, pelo seu
caráter inquebrantável, por uma solidão ativa, corajosa, e sem concessões
no tocante a sua meta. Friedrich Nietzsche (fig.11)
obrigado por suas valiosas interpretações, você foi um brilhante homem que
jamais o esqueceremos na história da humanidade!
Fig.10- Caricatura de
Nietzsche,
Fig.11- Friedrich Nietzsche
representando a
filosofia do super-homem.
Bem, a perplexidade aflora ao avaliar essa
quantidade de informações intrigantes, a Filosofia, a vida extraterrestre,
a Cosmologia, a existência de um Deus etc. É necessário ter coragem para
assumir o desafio da mudança dos pensamentos tradicionais, cabe a cada um
procurar a oportunidade ou criá-la!
Na verdade, você sabe do que
realmente eu sei?
Eu só sei que a gente se acostuma, mas não
devia
Acostuma-se a não olhar as estrelas lá no céu
E porque não
olha não pensa na vida lá fora
E porque não pensa na vida lá fora se
acha só
E por se achar só pensa que é único
E ao pensar que é único
torna-se arrogante
E ao arrogante torna-se, que pena, não sabe mais
viver
Eu só sei que já estou do outro lado de
lá
Que por lá estar não me acostumo
Que por não me acostumar sempre
me admiro
E por sempre me admirar
Eu ainda sei
Que só sei que
nada sei
AGUIAR, Sônia de. Farmácia de
pensamentos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna,
2000.
MONDIM, B. O homem quem é ele? São Paulo:
Paulus, 1980.
DARWIN, Charles. A origem das espécies.
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BLACKBURN, Simon. Dicionário
oxford de filosofia. Rio de Janeiro: 1997
Ciências
Astronômicas, disponível em Scientific american brasil.
Saulo Soares, 18 anos, é ufólogo pesquisador da União de
Pesquisas Ufológicas do Piauí (UPUPI), acadêmico de Licenciatura em
Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), acadêmico de
graduação em Medicina pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
* Contato por e-mail:
saulo_soares@msn.com
Fevereiro/2006